|  | 1. INTRODUÇÃO O século XVI, dentre tantas obras
    significativas, oferece o primeiro romance picaresco -  Lazarillo de Tormes. Traz ele
    a denúncia de um autor anônimo que, por meio da paródia da figura do herói modelar,
    aponta como uma sociedade, que é pautada pela honra, assiste à derrocada de seus
    valores. É um desvelamento que se dá em similaridade com as palavras do personagem
    Lázaro, depois de ter sido enganado pelo amo cego. A obra Lazarillo de Tormes serve de
    incentivo, para que, no século seguinte, pintores famosos, como Murillo, Velázquez e
    Ribera explicitem, artisticamente, suas idéias sobre a Espanha grandiosa do Século de
    Ouro, não sem levar alguma punição do cárcere, pois configuram, em suas telas, a
    pobreza, em cenas degradantes. Belos quadros, grandes quadros de meninos cojos,
    mulheres desgrenhadas e homens famintos colorem uma Espanha desonrada, mas, ao mesmo
    tempo, uma Espanha que se faz famosa, pela genialidade de sua plasticidade artística.  É importante assinalar que, além de
    permitir os passos inferenciais da picaresca, a leitura de Carlitos leva, ainda, a um
    dialogismo com Dom Quixote, isto, especialmente, quando se atenta, interartisticamente,
    para o caráter utópico dos personagens. A bem dizer, revela-se uma complexidade no
    jogo paródico: Carlitos realiza, gestualmente, a paródia do herói modelar, ao
    transcontextualizar dois personagens arquétipos da literatura espanhola - estes também
    paródicos -  engendrados no anônimo Lazarillo de Tormes e em Don Quijote de
    la Mancha de Miguel de Cervantes. Consubstancia-se o objetivo e o interesse
    maior desta tese: uma leitura crítico-produtiva de um universo de filmes de Charles
    Chaplin, visando a compreender e explicar como o personagem Carlitos, através da paródia
    veiculada pelo gesto, se define como anti-herói neopícaro, revelando-se, assim, um forte
    elemento de denúncia social. Verifica-se que os filmes de Charles Chaplin
    se distinguem por consideráveis estratégias de sedução, pelas quais o espectador se
    deve colocar em fecundo distanciamento. De tal modo, não só a paródia gestual, mas
    também os recursos retóricos da carnavalização, a realidade oscilante, a
    "teatralidade", tudo, enfim, cria um mundo que se diz como "ilusão"
    espetacular, a exigir a cumplicidade do espectador.  Dentre os filmes de Charles Chaplin,
    considera-se objeto de estudo um corpus fílmico, em que o personagem se manifesta
    por meio do gestual vagabundo. Nesta linha são visitados os seguintes filmes: A Dog's
    Life (Vida de Cachorro), City Lights (Luzes da Cidade), Easy Street (Rua da Paz), Modern
    Times (Tempos Modernos), Shoulder Arms (Ombro, Armas !), Sunnyside (Um Idílio no Campo)
    The Circus (O CIrco), The Gold Rush (A Corrida do Ouro), The Idle Class (Os Ociosos), The
    Immigrant (O Imigrante), The Kid (O Garoto), The Pilgrim (O Peregrino), The Tramp (O
    Vagabundo), The Vagabond (O Vagabundo). Também pelos traços do vagabundo, são
    abordados alguns filmes que costumam ser catalogados como "pastelões", mas que
    já trazem fortes indícios do contexto da filmografia futura. Personagens que fogem ao
    padrão da vagabundagem não constam do universo da pesquisa. Na leitura dos filmes, faz-se uso da
    metodologia indutivo-comparativa, sem preocupação com a análise das fontes, mas
    buscando, a partir do desempenho de Carlitos, os gestos picarescos e quixotescos que se
    refuncionalizam, na transgressão do herói modelar.  | 
  
    |  | No
    vigor da intertextualidade, vivifica-se, de maneira particular, a gestualidade
    anti-heróica de Carlitos, enquanto personagem das margens, o que confere um caráter
    fortemente emotivo à sua gestualidade tipificada. De forma eficaz, os gestos do
    personagem se engrandecem sob o foco do cinema mudo, quando ainda é, pelo gesto, que se
    efetiva a função referencial da linguagem. Pronunciamentos de vários críticos dos
    filmes de Charles Chaplin patenteiam que a paixão despertada pelo personagem no
    espectador não é fruto de reminiscências da infância, quando ainda se é "um
    desocupado leitor" e, sim, da sátira social que ele deixa escapar nas entrelinhas
    das suas piruetas. Sem dúvida, não são poucos os críticos que (como eu) levam a sério
    Carlitos, considerando, com toda a grandeza, este personagem que se insere no
    infratrágico do mundo moderno. Portanto, o personagem Carlitos é, com
    inteireza, um anti-herói do século XX que, na transcontextualização paródica,
    mobiliza o espectador a refletir sobre o destino do homem, no tecido social, quanto à sua
    dificuldade em afirmar-se como sujeito, frente a um mundo intensamente hierarquizado e sem
    valores autênticos. Vê-se então que, por meio da paródia
    gestual do herói, Carlitos transita pelos espaços da neopicaresca e faz o projeto
    político-social, que ele inspira, iluminar-se da força utópica de Dom Quixote. 2. CHAPLIN E O CINEMA MUDO O cinema de Charles Chaplin não está
    envelhecido, uma vez que o artista soube fazer de seus filmes, na trama da paródia
    moderna, um veículo de denúncia social, que vai além de uma simples narrativa de
    comicidade. Outros cômicos da época também se
    empenham nessa vertente e fazem das telas um veículo de protesto, mas Charles Chaplin,
    mediante a posição de impassividade do homem, aproveita as novidades do século como
    linha condutora, a exigir a cumplicidade do espectador. Encontram-se, em seus filmes,
    ressonâncias de sua vida pessoal.  No fazer cinematográfico de Charles
    Chaplin, pode-se estabelecer um diálogo entre o eu do autor e o eu do personagem, o que
    permite compreender uma gama de procedimentos, ancorados nas antinomias inerentes ao ser
    humano: vencido e vencedor, anti-herói e herói, pessimista e otimista, cômico e
    trágico, misantropo e filantropo, e outras mais. Na sobreposição Carlitos-Chaplin,
    mesclam-se o riso "pastelão" e o riso realista e, com imaginação e fantasia,
    retrata-se, paródica e satiricamente, a realidade histórico-social.  Logo, no processo de identificação
    autor-personagem, os filmes ampliam sua faceta de simples comédia-caricatura e apresentam
    uma expressão dramática forte, cuja dimensão, trágica e cômica, faz o público, ao
    mesmo tempo, chegar às lágrimas ou às gargalhadas. Nesse espelho claro-escuro
    silencioso da tela, a platéia se identifica com o personagem e não sabe se ri ou se
    chora de si mesma ou de Carlitos. Neste processo de identificação, aflora um
    personagem identificado com o povo e que advoga em sua defesa. Há um um jogo de
    experiências pessoais e culturais, em que o personagem, segundo Chaplin, conjuga
    múltiplos perfis, em caráter protéico. Na busca de uma nova forma de expressão
    para o cinema silencioso, a "lógica" de Charles Chaplin lhe dá a capacidade de
    vislumbrar, parodicamente, nas cenas do cotidiano, uma realidade social de ontem e de
    hoje. A partir daí, refuncionaliza-se a psicologia de um personagem, delineado como
    vagabundo, que vai embora na poeirenta estrada, retomada a cada filme. Acredita-se que a concepção pessoal de
    Chaplin de ver o mundo e sua inspiração se devem à sua própria infância. Como
    Carlitos, em seu universo, cheio de vagabundos e de gente simples, driblando a fome e
    lutando pela sobrevivência, Chaplin atravessa seus primeiros anos. Entretanto, ao final,
    instala-se a contraposição. O autor é acusado de ser excêntrico e megalomaníaco, vive
    num universo de incomunicabilidade e rejeita a antonomásia de o "paladino dos pobres
    e dos indefesos".  Fazendo uso da paródia satírica, através
    de Carlitos, Chaplin proclama o absurdo da vida, denuncia a intolerância, o sentido
    belicoso do ser humano, a hipocrisia, a desonestidade e as desigualdades sociais. Os olhos da câmera, transposição do
    pensamento do autor, induzem o espectador a passear por entre os melancólicos, os pobres,
    os que sofrem a desesperança e a crueldade do mundo, na fome e no desamparo. Em verdade,
    o espectador sabe ler, na plural pantomima da corporalidade de Carlitos, uma rebelião
    contra o aniquilamento do sujeito, frente a um emparedamento opressor.  Chaplin sabe, como ninguém, usar a
    gestualidade corporal nas entradas súbitas e graciosas de Carlitos, divorciando-a das
    mímicas grosseiras, insossas e sem a menor sutileza de uma comicidade gratuita. De maneira inventiva, utiliza-se das
    imperfeições técnicas da arte de fazer cinema. Mascarando a ausência do som,
    picarescamente, invertendo desvantagem em vantagem, dribla as dificuldades da tecnologia
    das câmeras, quando, no emprego do "plano geral", valoriza as piruetas e as
    corridas de Carlitos e inova na composição do balé de sua pantomima. Até na
    utilização dos objetos, Chaplin inova, fazendo-os, ora protagonistas, ora antagonistas,
    e ainda, vítimas, sem tranformá-los, como era costume na época, em joguetes cômicos. Destacando-se entre seus contemporâneos,
    Chaplin abandona, logo, a desenfreada corrida cômica, usando a corporalidade com
    moderação, para compor seu personagem.  Enquanto a maioria do cômicos têm, no uso
    exagerado dos movimentos gestuais, uma saída para suprir a falta de som e fala, Chaplin,
    sem querer artificiar nenhum paliativo, nem esconder as deficiências das câmeras, se
    serve delas para criar um estilo novo. | 
  
    |  | Deve-se
    observar que o ator cômico do início do século, com seu objetivo de simples diversão,
    passa de uma brincadeira a outra, de maneira acelerada e correndo cada vez mais. Afinal de
    contas, estamos no começo de um tempo cheio de grandes inovações, quando o homem
    acelera o passo para acompanhar o progresso.  É esta carrera loca que se vê em
    Buster Keaton: excessiva rapidez de locomotivas, carros e cavalos, e uma dose de
    megalomania na gestualidade. Aliás, no tamanho desmedido e exagerado das explosões e na
    amplidão das catástrofes, observa-se a monstruosidade do universo em contraste com a
    pequenez do homem Buster Keaton. No ritmo frenético das destruições e das desgraças
    por que passa o protagonista, há um contraste entre o turbilhão dos objetos e a
    impassividade do personagem, frente à situações. Junto aos delírios e sonhos do "homem
    que jamais ri" - Buster Keaton - surge o arrivista Harold Lloyd, sempres às voltas
    com a altura dos edifícios ou, prestes a cair, pendurado em grandes relogios. Entretanto,
    este supera todas as dificuldades e catástrofes, sem a passividade do outro, muito
    desajeitado, mas, afortunadamente, vencedor na sua obstinação. Há, ainda, por essa época, a impaciente
    violência, em convívio com a ingenuidade exagerada, na dupla o Gordo e o Magro. É, contrapondo-se a esses companheiros do
    cinema mudo, também famosos e admirados, que surge, destacadamente, um Carlitos insólito
    e sensível. Para exteriorizar o que não se pode dizer
    com palavras, Chaplin, com um simples recurso de "primeiro plano", consegue
    privilegiar as expressões fisionômicas de Carlitos, com grande intensidade, e chegar
    mesmo a resumir toda a temática de um filme, como se pode observar nas emblemáticas
    cenas finais de City Lights(Luzes da CIdade). Outra diferença em relação aos cômicos
    do cinema mudo é que, ao invés de fazer seus personagens fingir que falam, Chaplin
    prefere mimar o diálogo. Sobrelevam-se, então, as emoções do gestual atributivo,
    nascidas da alma, que são reveladas pelas partes do corpo, através do sorriso sob o
    bigode ou por seus olhos tristes e negros, emoldurados pela máscara branca. Os signos do
    cinema silencioso e "descolorido" preto e branco não impedem o espectador de
    ouvir e ver o que a imagem falada e colorida faz tão explícitamente. Em alguns casos, o
    filme mudo, livre da interferência "do barulho do som", que funciona como um
    "ruído" no processo da comunicação, oferece ao
    espectador/descodificador a recepção de uma ilusão referencial, em cenas privilegiadas
    pelo olho da câmera do diretor. O espectador é capaz de afirmar, por exemplo, com toda a
    propriedade, que a bandeira que Carlitos carrega na passeata dos grevistas, em Modern
    Times(Tempos Modernos), é vermelha. Através do isolamento do silêncio,
    percebe-se como vermelho o que é consignado como protesto.  Deste modo, um bom filme
    "silencioso" atinge todas as platéias, da mais simples à mais
    intelectualizada. Além do mais, não se pode esquecer o contraponto gracioso que as
    canções surgidas do sentimento do poeta Charles Chaplin propiciam. Sua música
    sublinha o gesto, ora em ritmos ligeiros, ora em ritmos suaves. Embora Chaplin chegue a reconhecer que a
    fala daria às figuras maior aparência de realidade, para ele, isto significaria
    abandonar o tipo do vagabundo, fortemente marcado pelo gestual.  De modo especial, os filmes de Charles
    Chaplin cumprem sua função comunicativa, como cinema mudo, uma vez que a voz destruiria
    a "ilusão" que ele queria criar. Em verdade, com a figura mascarada de
    Carlitos, Chaplin destrói a ilusão referencial e resgata a "teatralidade" - um
    espetáculo que se diz como espetáculo ¾ e, deste modo, desloca o espectador do mundo
    circundante e o induz à reflexão. Já se disse que Chaplin, com a silhueta de
    Carlitos, forja o logotipo cinematográfico do século. Sem dúvida, na figura solitária
    de seu personagem, não fica só a imagem de um pobre homem que se esvai na poeira das
    estradas, nela também repousam as verdades estrelinhadas de um bufão trágico, onde o
    silêncio traz a cumplicidade da palavra. | 
  
    |  | 3.
    CARLITOS NA TRANSCONTEXTUALIZAÇÃO PARÓDICA A leitura do gestual de Carlitos norteia-se
    pela transcontextualização paródica, já que, na configuração do personagem,
    encontra-se, especialmente, a apropriação dos gestos trapaceiros do pícaro e dos gestos
    utópicos de Dom Quixote. Nesta instância, faz-se importante assinalar as diferenças, no
    âmbito das semelhanças. Carlitos realiza, no cinema, a paródia
    gestual do herói, desenvolvida, com excelência, por Lázaro de Tormes e por Dom Quixote,
    resgatando do pícaro a paródia gestual por atrofia e de Dom Quixote, a paródia gestual
    por hipertrofia. Tendo em vista a transcontextualização, o
    personagem Carlitos se configura por meio dos passos inferenciais dados pelo receptor.  Com efeito, na leitura do personagem, o
    espectador/descodificador atenta para a estrutura paródica e, ainda, para uma intenção
    codificada, uma vez que a paródia envolve, não só o enunciado estrutural, mas também a
    enunciação inteira do discurso, relacionada aos esquemas de comunicação. Nos filmes de Chaplin, a paródia e a
    sátira interagem, de maneira eficaz, uma vez que, pela força da paródia, explicita-se a
    sátira, em seu papel de corretivo social. Portanto, em seus filmes, se estabelece uma
    paródia satírica, pela qual se discutem as práticas institucionais e a situação do
    homem, na sociedade atual. A crítica à sociedade contemporânea, por
    meio da trapaça - encontrada nos filmes de Charles Chaplin ¾ , é o traço marcante da
    aproximação de Carlitos ao pícaro clássico, Lázaro de Tormes. Sem dúvida que, nas
    conexões de semelhanças, muitos traços de diferenças se estabelecem, determinados,
    sobretudo, em todo o contexto em que vivem os personagens. Antes de mais nada, o que se
    ressalta, como significante diferença entre Carlitos e o picaro clássico, é que este
    evolui como afirma Mario González, do simples papel de vítima, passando pela
    integração e pela mentira dessa integração, até se mostrar como apenas um
    delinqüente irrecuperável. Tal fato não ocorre com Carlitos, porquanto, na inversão
    paródica, junto ao seu caráter atrófico de herói modelar, ele guarda características
    hipertróficas deste mesmo herói. Vê-se, pois, que seu caráter transgressor sintetiza a
    incorporação da trapaça do pícaro à utopia quixotesca. Portanto, não se intenta atrelar Carlitos
    à noção de pícaro clássico. Carlitos guarda algumas características do anti-herói
    picaresco, e a aproximação é possível, quando se observa a paródia gestual, a
    aventura, a sátira social e, principalmente, o seu jogo trapaceiro.  A leitura dialógica entre Carlitos e
    Lázaro aponta para uma categoria de adaptação social que os exclui da conformidade,
    situando-os, assim, como homens das margens. Enquanto o herói se estabelece como figura
    modelar de um espaço social instituído, Carlitos e Lázaro, por suas trapaças
    picarescas, se definem como anti-heróis. Entretanto, apesar da similar marginalidade,
    Carlitos e Lázaro trilham um caminho de adaptação/inadaptação social diferente:
    Lázaro se marca pela inovação, e Carlitos, embora passe por este e outros processos,
    enuncia-se, essencialmente, pelo retraimento. Antes de mais nada, é necessário que se
    compreenda Carlitos como um homem das margens, a desfilar pelo mundo às avessas da
    paródia. As conexões de semelhança e dessemelhança
    de Carlitos com o personagem picaresco, se robustecem com as características inerentes ao
    romance picaresco: orfandade, pseudo-autobiografia, visão parcial e preconceituosa do
    narrador, visão reflexiva e filosofal do pícaro, fome e necessidade de subsistência,
    vários amos e várias profissões, viagem e movimentos, e narrativa episódica. Algumas
    destas características podem ser atribuídas aos filmes de Carlitos, como por exemplo, a
    orfandade, o aprendizado, a fome e a necessidade de subsistência e a viagem.  No desenrolar dos acontecimentos, o
    personagem evidencia o drama de ser homem entre homens, ser um contra todo o conjunto
    econômico-social. Daí o seu caráter de solidão e sua constante peregrinação.
    Perpassa, assim, por tipos representantes de vários espaços da sociedade, que se
    oferecem em um variado painel ¾ o gordo, o baixo, o aventureiro, o ladrão, o vesgo, o
    pobre, o rico, o feio, o bonito, o orgulhoso, o solitário, o opressor, o desprotegido e
    muitos outros - , em que as classes inferiores contemplam, de maneira satírica, as
    classes superiores. Como se sabe, a picaresca está sempre
    baseada numa situação, ou melhor, numa cadeia de situações, e o personagem se envolve,
    desde o princípio, numa complicação, com as leis da conformidade social. Seguindo o
    jogo da sociedade, o novo pícaro assume o comportamento de velhaco e escolhe não se
    comprometer e, sim, viver em cima do muro, entre a vagabundagem e a delinqüência, nem se
    juntar a seus semelhantes, nem se afastar completamente deles.  O objeto pode ser definido como um elemento
    do mundo exterior, fabricado, assumido e manipulado pelo homem, independente e móvel,
    ligado à escala humana e um pouco inferior ao próprio homem.  Os objetos, nas aventuras gestuais de
    Carlitos, ocupam as funções de antagonista, de cúmplice e de vítima. Como
    antagonistas, os objetos exercem um papel contrário àquele para o qual foram criados,
    isto é, para a comodidade do homem, para servi-lo na sua função utilitária e social.  Alguns objetos não se recusam a ajudar
    Carlitos, mas também infernizam o seu viver. Contra tais objetos - que deveriam ser
    ferramentas do seu dia a dia - o personagem se vale da passividade engenhosa e astuciosa e
    os coloca no mundo da cumplicidade. Faz do bom humor sua defesa, meio pelo qual triunfa
    sobre os objetos e descaracteriza a maldade das coisas, conferindo a elas uma atribuição
    de uso diferente para o qual estavam destinadas.  Em suma, o objeto incorpora-se ao gestual
    trapaceiro de Carlitos e, com a criatividade que o mundo da "ilusão fílmica"
    oferece, refuncionaliza-se incessantemente, na paródia gestual do herói. Por seu turno,
    em inversão irônica, o objeto para Carlitos se faz paródico, à medida que não
    representa nenhuma expiação e, sim, uma incorporação do mundo orgiástico e
    confusional do novo pícaro. No entrelaçamento entre Carlitos e Lázaro,
    observa-se que não só os objetos compõem este mundo confusional, mas também as
    camuflagens e os disfarces, o jogo do acaso, das surpresas e dos contrastes, tudo aquilo
    com que este personagem marginal, na sua trapaça astuciosa e fraudulenta, se livra dos
    reveses da vida, sem as lamentações do pícaro, mas com sua energia orgiástica e, ainda
    com o dinamismo da utopia construtiva que existe em cada ser humano. De modo especial, Charles Chaplin, em seus
    filmes, configura suas memórias de pobreza e de infância, fazendo-se o produtor em
    narrador implícito, inserindo em seus filmes, a dupla perspectiva de auto-disfarce e
    auto-revelação.  Em sua verdadeira viagem -  a
    evolução para a solidariedade humana - , Carlitos supera, algumas vezes, sem grande
    êxito, as dificuldades e assume, como Lázaro, uma vida antitética, cheia de fortunas
    y adversidades, mas não se fecha aí, pois incorpora, com eficácia, a utopia de Dom
    Quixote. | 
  
    |  | 4.
    A Utopia Quixotesca O final do século XV marca o início de
    uma grande aventura utópica: a chegada dos europeus à América. A seguir, no princípio
    do século XVII, em meio a uma época povoada de paradoxos, surge, na Espanha, o
    personagem que melhor representa os ideais utópicos do ser humano -  Dom Quixote -
      como personificação paródica destes ideais. Se a descoberta das Novas Índias ocorre
    como uma realização de sonhos visionários, dois séculos mais tarde, a obra Don
    Quijote de la Mancha concretiza o dualismo que convive na alma humana, ou seja, o
    idealismo e o racionalismo. Em meio a esta ambivalência, forja-se a utopia. Já no
    começo do nosso século, os Estados Unidos passam a ser o principal cenário utópico de
    outros tantos novos sonhadores, que, por extensão, emergem em todas as partes do mundo.
    É então, que, na produção fílmica, nasce Carlitos, personagem que traz em si o germe
    da utopia quixotesca, em seu dualismo de ver o mundo oscilante entre a fronteira do real e
    do não-real.  Enquanto o Carlitos picaresco se manifesta,
    no diálogo paródico, através da atrofia do projeto cavalheiresco, em sua negação, o
    Carlitos quixotesco revela-se com o traço distintivo da hipertrofia cavalheiresca,
    efetuada no exagero da caricatura dos traços heróicos. Pressupondo-se que o âmbito da paródia
    concentra uma variada gama de dimensões textuais, consignam-se também, em Carlitos, ecos
    de um estilo medieval - o amor cortês - , quando se intercambia com a obra Don
    Quijote de la Mancha. Portanto, a síntese bitextual permite ao
    descodificador construir, a cada passo, um segundo sentido de um texto, com a repetição
    alargada, numa perspectiva estrutural e pragmática. Na leitura paródica de Carlitos com Dom
    Quixote, realiza-se uma inversão irônica da postura do cavaleiro medieval, efetivada
    pelo gesto caricato do vagabundo.  O anacronismo do personagem Carlitos, que se
    estabelecera a partir do exagero da vestimenta, fora do tempo e do lugar, agora se funda
    na gestualidade amorosa exacerbada, concebida em uma época em que, no processo social e
    político, pelo qual passava a sociedade, no começo do século, não mais cabia o
    romantismo exagerado desse novo cavaleiro andante. O cavaleiro renascentista não
    compreende as forças que se movem por detrás da nova economia, da nova sociedade e do
    novo Estado. Assim, o novo cavaleiro Carlitos não enxerga que a vez é a dos novos ricos
    e que o idealismo e o irracionalismo, agora, como no "Século de Ouro espanhol",
    estavam fora de moda.  Carlitos caminha junto com Dom Quixote
    porque pertence, como ele, à galeria de caracteres narcisistas, ao conjugar a alegoria do
    amor a si mesmo e ao mundo, a perda da realidade e o sentimento de solidão e desolação.
    Como Dom Quixote, tem o viver, à margem da realidade da vida, presa nos limites do seu
    eu, vivendo uma existência fictícia, completamente ilhado do ser real.  | 
  
    |  | 5.
    O NEOPÍCARO CARLITOS: UMA INTEGRAÇÃO DE PARÓDIAS O neopícaro é o pícaro do século XX com
    outros matizes. Continua fruto de antagonismos de classes, mas sob outras condições de
    opressão, de que resultam renovada forma de luta. Frente ao poder absoluto do patrão,
    associado ao mundo do dinheiro e da riqueza, instala-se a figura simbólica de Carlitos.
    De fato, as características externas e alcançáveis da sociedade burguesa,
    contrapõem-se às características internas de Carlitos, que lhe são inalcançáveis - a
    candura, a inteligência, a astúcia, a bondade - num jogo antitético que demonstra
    sempre a vitalidade orgíaca do pícaro, como a marca do fraco, nas suas diversas e
    eternas lutas e fugas da polícia, do rival e do gigante. A sua malandragem é conseqüência dos
    atuais valores da sociedade, os econômicos, que subverteram o sistema moral e a má
    patronagem que existe nas ligações impessoais. O indivíduo que, no meio familiar, é
    uma pessoa, passa a ser, diante da má patronagem, um animal de carga e tração.  Ao trilhar o caminho da aventura, Carlitos
    faz uso de um gestual ágil, mas também astucioso e oportunista, o que o torna,
    malandramente, disponível perante a vida. Seu universo individualizado é fruto de uma
    hierarquização da sociedade desigual, em que os grandes e os poderosos desconsideram os
    anseios dos oprimidos. Carlitos, em sua trajetória de homem das
    margens, prossegue nas andanças, logros e aventuras, desajustado, aproveitando os
    recursos que se lhe oferecem pelos caminhos. Prefere viver de expedientes, sem nunca
    assumir uma posição fixa na estrutura social. É sempre um fora da lei, sem dinheiro,
    que perambula pelas ruas e dorme nos bancos de praças, enfrentando todos os guardas do
    mundo. Carlitos vai encontrar, no espaço da
    carnavalização, o ambiente propício para sua ambigüidade paródica. Homens, antes separados por barreiras
    hierárquicas inatingíveis, agora são iguais na organização da massa. É o que se
    observa nos filmes em que se intercambiam: o menino e o vagabundo, o rico e o pobre, o
    feio e a bela, o palhaço e o acrobata, o homem e o cachorro, o forte e o fraco, a riqueza
    e a pobreza, o orgulho e a simplicidade.  Carlitos desempenha, na paródia
    carnavalesca, o mecanismo da entronização e da desentronização. A entronização surge
    para destruir o que está pré-estabelecido. A entronização de Carlitos é ambivalente e
    contém, desde o princípio, a idéia de desentronização, pois, coroa-se o contrário do
    verdadeiro rei. Em seu orgiasmo improdutivo e confusional,
    coexistem o amor pela vida, os sonhos, a utopia e a sede de permanência. O conjunto de
    características picarescas, parodicamente ressaltado, coaduna-se com o projeto
    politico-social do neopícaro Carlitos que incorpora, também, significativos traços de
    Dom Quixote. Deste modo, no anti-herói Carlitos, subjaz
    um quixotismo que o fará portador de um projeto de liberdade. À semelhança do pícaro, o gestual de
    Carlitos, em transcontextualização, também subverte os valores heróicos ¾ a nobreza,
    a coragem, a lealdade, a verdade, a justiça, o desprendimento e a conduta amorosa. Por
    outro lado, como paródia de Dom Quixote, suas ações refuncionalizam, no exagero e na
    caricatura, tais valores. Assim, o personagem conjuga, ao mesmo tempo, a hipertrofia e a
    atrofia das qualidades do herói modelar. Surge, desta maneira, um desejo de
    estabelecer uma nova ordem social - consciência que faltava ao pícaro clássico. Frente
    ao gestual paródico de Carlitos, o espectador pensa uma nova sociedade, sem opressão,
    alimentada no amor e na amizade. É a categoria de rebelião que se instaura. Então, como
    elemento conscientizador, destaca-se o riso carnavalesco, meio eficaz para desvelar a
    hostilidade do mundo, bem como para apontar os caminhos da rebelião contra a ordem e os
    poderes estabelecidos. Com efeito, o riso, elemento inseparável da paródia e da sátira,
    sublinha a inconsistência dos valores da sociedade. A figura caricatural do vagabundo
    promove o ambivalente riso carnavalesco capaz de criar a transformação e a rebeldia.  O neopícaro Carlitos, com traços
    quixotescos, na complexidadede de seu gestual paródico, de pícaro e de Dom Quixote, se
    faz filtro paradigmático de cinema americano, resgatado em personagens de várias
    nacionalidades, tais como: Cantinflas, Zorro, Bat Masterson ou Oscarito. | 
  
    |  | 6. CONCLUSÕES Na leitura do universo de filmes de Charles
    Chaplin, a complexidade já se observa no próprio âmbito estrutural da paródia, uma vez
    que a transcontextualização acontece, interartisticamente, entre cinema e literatura. A
    seguir, verifica-se esta complexidade pelo alto teor de ambivalência em que a paródia se
    dá: positiva e negativamente. De tal modo, na síntese dialógica com Lazarillo de
    Tormes e com Don Quijote de la Mancha, configura-se, por um lado, uma ironia
    bem humorada frente ao pícaro e a Dom Quixote e, por outro lado, uma ironia corrosiva e
    ridicularizadora, em relação ao herói modelar. Deve-se notar que, na ativação destas
    obras do passado, transcontextualizam-se personagens, intensamente marcados por um gestual
    específico e conhecido - codificado como trapaça do pícaro e utopia quixotesca - o que
    propicia o estabelecimento da função pragmática da paródia, com extraordinária
    cumplicidade do espectador.  Destaca-se, então, a eficácia do
    distanciamento. De fato, ao parodiar obras que, em si, já são paródias, os filmes de
    Chaplin fazem recuar, fortemente, a ilusão referencial: não se aspira mais a dar a ver o
    real, mas o filme, ou seja, ao serem fabricadas imagens gestuais icônicas sobre imagens
    gestuais literárias, há uma multiplicação de ilusões, em que se perde a noção de
    referente. Deste modo, na transcontextualização, o distanciamento crítico-produtivo
    aflora de um mundo fílmico, construído numa "ilusão" peculiar, segundo o
    próprio Chaplin, que privilegia a representa-ação, sem prestar caução de
    autenticidade ao mundo circundante, levando, assim, o espectador a caminhos equívocos. Além do mais, na convergência cinema e
    literatura, a auto-reflexividade paródica não só põe em xeque a ilusão referencial,
    mas também sustenta uma reflexão sobre os conceitos da arte, em nosso tempo.  Sem dúvida, a par da auto-reflexividade, a
    sedução do espectador aumenta por meio dos mecanismos da "teatralidade". Ao
    criar um espaço de "ilusão", em distanciamento do mundo, isto é, ao dizer-se
    como espetáculo, a ação representada perde seu caráter paternalista, próprio da
    produção "realista" que, ao oferecer tudo detalhadamente pronto, gera um
    espectadodor passivo. Neste horizonte, o anti-herói Carlitos
    sobreleva-se como o agente que mobiliza a reflexão do espectador, por meio de um discurso
    gestual ambiguamente carnavalesco. No espaço cinematográfico, reforça-se a sedução,
    quando se observa o gestual livre de Carlitos, como homem das margens. A excentricidade de
    sua figura -  destacada pela máscara, pela roupa e pelos gestos -  impede sua
    inserção em qualquer papel social definido. É uma modelização caricatural do homem. A
    máscara inventiva, associada à roupa confusional de várias modas, alia-se ao ambíguo
    gestual de dândi e de vagabundo aventureiro, o que sublinha seu caráter de transgressor
    do herói modelar.  | 
  
    |  | A
    aparência frágil e humilde de Carlitos, em seus inúmeros papéis, esconde, por vezes,
    um caráter violento e inclemente. Contudo, predomina nele o espírito galhofeiro e
    astucioso, que utiliza a zombaria em seus movimentos - arma profícua que lhe é peculiar.
    Na busca da subsistência, Carlitos exerce as mais diversas profissões: faxineiro,
    marinheiro, caixeiro, bombeiro. Passeia pelos palcos, é dançarino e palhaço. Anda em
    apuros nos ringues, nas praias e nos parques. É vagabundo, boêmio, conde, imigrante e
    fugitivo. Tem uma vida de cachorro, mas é também pai ardoroso, soldado e rei. Com seu
    gestual mimético, Carlitos é capaz de enganar pessoas de prestígio e de poder. Assume a
    condição de abandonado, atropelado, esfomeado, sem dinheiro, mas sabe escapar,
    valendo-se de expedientes, para sanar a dor e a fome. No mundo da "ilusão" chapliniana,
    a ambigüidade se dá como tônica constante. A indeterminação dos amores e a
    contradição das amizades manifestam-se em meio ao mundo oscilante e às liberações do
    orgiasmo, nas confusões de Carlitos pelo vaivém de suas aventuras. Do orgiasmo da vida
    improdutiva e do orgiasmo confusional, por vezes furioso, do personagem, infere-se a
    pluralidade de seus sentimentos, mas também, em contraponto, se reconhecem as opressões
    de uma sociedade laboriosa, cujo progressismo energético se esfuma frente à eficácia de
    um vagabundeio livre.  Carlitos, em sua dança de vida,
    coreografada em seus diferentes papéis, dribla as injunções sociais e encarna a
    tenacidade quixotesca, na sua eterna e inalcançável busca amorosa. Na sua existência
    estrangeira de personagem das margens, agiganta-se a seus olhos, em alienação
    narcísica, sua capacidade de ação. Em verdade, o desfile carnavalesco de seus
    diferentes desempenhos tem a repetição da retórica grotesca, atraindo o espectador para
    uma viagem sem palavras, onde a pantomima e a dança investem na humanização. Portanto, o balé dos movimentos do
    personagem vai além da tradição bufonesca. Há nele uma perspectiva desalienante. O
    gestual ambíguo, repetitivo e hiperbólico de Carlitos, envolve surpresas e contrastes.
    É o espaço do de repente, às avessas, afastado do mundo real, em que a trapaça do
    pícaro e a utopia quixotesca, imantam o descodificador/espectador.  Uma outra estratégia de sedução
    encontra-se nas manifestações de sentimento pelo personagem, por meio da gestualidade do
    amor cortês e da solidariedade filantrópica. De fato, em Carlitos, o gestual
    eminentemente atributivo, o sombreado dos olhos tristes e negros, a pequenez do corpo, a
    ingenuidade do sorriso, emoldurado pela máscara branca, tudo desperta no espectador o
    desejo de proteger e até acalentar o personagem. Carlitos, ao refuncionalizar produtivamente
    a picaresca tradicional, torna-se o neopícaro mais famoso do cinema. Supera o que o
    pícaro não fora capaz de realizar: extrapolar os estreitos limites da individualidade e
    promover um projeto político-social. Para tanto, ele se utiliza do gestual trapaceiro do
    pícaro e penetra nos interstícios sociais, meio pelo qual já se sinalizam as
    denúncias. Ao empunhar aquela bandeira "vermelha", Carlitos levanta também uma
    contestação ao sistema, como porta-voz dos fracos e oprimidos. Porém, seu gesto picaresco de inovação
    avança, e Carlitos embarca no sonho utópico quixotesco, marcado pela realidade oscilante
    e pelo superinvestimento do eu, descambando, via de regra, para a solidão do retraimento.
     | 
  
    |  | É
    enquanto neopícaro quixotesco que Carlitos soergue-se como perfeito anti-herói de nosso
    século. Realmente, na transcontextualização paródica, o personagem adquire traços da
    grandeza de Dom Quixote, que, segundo Mario González, pode ser definido como um
    ultra-herói, que se faz grotesco, ao ser colocado em contato com uma dimensão
    histórica, que lhe realça o anacronismo. É esta grandeza que faz reluzir as
    diferenças, no âmbito das semelhanças de sua gestualidade com a picaresca.  Ao vagabundear pelos filmes, Carlitos
    afronta a crescente mecanização, o burocratismo, a intervenção do Estado, em suma,
    todo um labirinto de poderes. São emparedamentos de técnicas de siglas, de regras, de
    discursos e de opiniões, entre os quais as resistências se esfumam e os rostos
    desaparecem. Como se sabe, a rebelião envolve a proposta
    de uma genuína mudança de valores. De sua parte o espectador, na experiência vicária
    da frustração, patenteia essa necessidade de renovação. Aí, num primeiro momento,
    Carlitos se apresenta como o defensor do pobre e do proletário. Entretanto, logo se
    percebe que o que está em jogo não é o homem de tal ou qual sociedade, mas a totalidade
    da condição humana. Na derrocada do herói modelar, o anti-herói Carlitos sinaliza para
    a diluição do sujeito, em choque com um mundo inautêntico. Logo, o personagem Carlitos
    apresenta o tema da vida humana, do pobre homem golpeado na busca de agir e existir
    concretamente.  Com efeito, a silhueta de Carlitos, erguida
    na imensidão branca da neve no Alasca, em meio à tempestade, ao frio e à fome, no filme
    The Golden Rush ( A Corrida do Ouro) enfatiza a posição do homem perdido e
    desenraizado. Sua imagem solitária, emoldurada em preto e branco, aponta para a
    fatalidade que pesa sobre o homem, no tecido da sociedade moderna, onde um enredamento de
    poderes se faz destino. É, deste modo, que se considera o retorno do trágico. Entretanto, neste retorno, já não existe
    lugar para heróis gloriosos, belos e cheios de virtudes ou para os deuses, a regerem seus
    destinos. A tragédia clássica que antes se fechava no alto, hoje se volta para o baixo. Carlitos se integra na democratização do
    trágico que, em substituição ao herói modelar, põe em cena figuras insignificantes e
    os anti-heróis. Em oposição à solenidade clássica, o personagem circula num clima de
    derrisão que a estrutura da paródia oferece. Assim, Carlitos mergulha no infratrágico
    do cotidiano, do banal, do irrisório, ameaçado de aniquilamento, nas instâncias do
    trabalho produtivo e nas demais estruturas capitalistas. No infratrágico dos dias atuais, a
    fatalidade não intervém, à maneira clássica, para provocar e punir. Um novo destino
    está ao lado do homem, amalgamado a ele. Em vez de uma tragédia movida a paixões,
    interesses e valores, surge uma antitragédia, engendrada no vazio - ausências,
    não-valores, non-sens ¾ , que tem sua fonte na derrota do que dera consistência
    à tragédia grega: caráter, transcendência e afirmação. Como reverso da tragédia
    clássica, o que conta não é o que se afirma, mas o que falta.  A figura paródica do vagabundo é, ainda,
    uma provocação à sociedade de felicidade, baseada no culto da higiene, da criança, do
    esporte. É como vagabundo que Carlitos se defronta também com um espaço, em que o homem
    se faz dependente dos objetos e da aparelhagem técnica.  É o império da máquina que ele interpela
    em Modern Times (Tempos Modernos), império este instalado como uma fatalidade
    que atravessaria todo o século XX. A sociedade de consumo, sob as imagens de renovados
    modelos trazidos pelos meios de comunicação, oferece oportunidade de possuir cada vez
    mais coisas, porém, ao mesmo tempo, torna o homem sempre mais seu escravo. Neste paradoxo
    está uma das faces da fatalidade do homem moderno: quanto mais produtos técnicos, menos
    o homem reconhece sua imagem e o testemunho de sua presença no mundo. Vê-se então que, na satisfação da
    descoberta de novas máquinas, o homem encontraria sua infelicidade e sua alienação.
    Torna-se ele uma presa dos objetos, ao perder-se na massa, devorado por um mundo anônimo.
    O trágico da sociedade moderna é projeto de uma sociedade sem rosto. Revela-se, com
    efeito, a comunicação estereotipada, o mal-entendido, a falsa reconciliação. O homem
    exila-se de si mesmo, ao desfilar por um espaço sem legitimidade, invadido por falsas
    palavras e pela desenfreada proliferação de signos e de objetos.  Quando os poderes negam a autenticidade do
    homem, Carlitos rompe com a comunicação e se entrega ao ritualismo. Ele quer, com
    insistência, ser aquela ovelhinha negra que surge em meio às ovelhinhas brancas,
    indiciando os tempos modernos. Sua liberdade ocorre em contrapartida ao ritualismo
    conformista, quer dizer, contra a "adesão de carneiro" aos modelos impostos
    pela publicidade.  Como anti-herói do infratrágico, Carlitos
    configura a degradação humana na cena da vida, onde os riscos se encontram na sociedade
    hostil e nas pessoas que se estranham ou se devoram. Em verdade, às vésperas do século
    XXI, o homem continua sendo o lobo do homem, conforme o princípio de Hobbes, lembrado
    pelo autor Chaplin. Continua o conflito do "ser", em face às armadilhas da
    vida, num mundo que toca as fímbrias do absurdo, como proclama Camus. | 
  
    |  | Por
    conseguinte, de maneira eficaz, por meio do jogo semiótico da paródia gestual,
    iluminam-se, com Carlitos, os caminhos da picaresca moderna - desnuda-se a situação
    infratrágica do homem, e, ao mesmo tempo, o projeto político-social do neopícaro
    banha-se de energia utópica. Se, por seus traços neopícaros, Carlitos critica o
    presente para mudar o futuro, com seus matizes quixotescos, timbra esta mudança como
    utopia possível. A tenacidade do gesto do neopícaro redimensiona-se com a esperança que
    impulsiona o homem à ação. O personagem Carlitos, graças à energia
    agremiadora do orgiasmo, torna-se um símbolo de liberdade para várias gerações,
    emblematizado em retratos, posters, cartões. Sua imagem prolifera por todas as partes do
    mundo. A figura ambígua e errante de Carlitos mobiliza o impulso utópico no bojo da
    rebelião, sinalizando para a busca do ideal de fraternidade, ansiado por cada um de nós,
    o que nos induz, especularmente, a uma identificação com o personagem. Ao refuncionalizar, produtivamente, o sonho
    de grandeza alienante do narcisismo secundário de Dom Quixote, Carlitos promove um
    dinamismo liberador do pensamento utópico que avoca o espectador, para uma tomada de
    consciência lúcida e despojada do sentido aventureiro.  Carlitos incorpora, pois, a antonomásia de
    "o paladino da esperança". Seus filmes atravessam quase todo um século e, no
    gestual da caricatura, pela força da paródia satírica, jorram luz sobre o que a
    "ordem do discurso" não permite que se desvele na linguagem verbal. Aliás, na
    peculiaridade de seu gesto, Carlitos põe em foco, a própria questão do "ser"
    na linguagem. Seu gesto pessoal enfrenta o gesto mecânico do ritualismo social, lembrando
    o espectador de que a luta por meio da linguagem sempre é possível a cada um, como prova
    de existência. Enfim, grandezas e misérias do ser humano
    são vislumbradas, em meio à excelência das palhaçadas, consagrando-se Carlitos-Chaplin
    como "o homem mais engraçado do mundo". Nas entrelinhas das piruetas do
    personagem, há a sabedoria da tenacidade, a insinuação de que nunca se deve desistir
    diante dos obstáculos. Com Carlitos-Chaplin, na cumplicidade autor-personagem, ficam os
    trejeitos do homenzinho franzino, sem privilégios e sem direitos, que aposta na bravura e
    nas pulsões de esperança, em prol da luta pela afirmação do sujeito frente a um mundo
    inautêntico. | 
  
    |  | 7.
    BIBLIOGRAFIA  ALFARO, Gustavo A. La Estructura de la Novela
    Picaresca. Bogotá: Instituto Caro y Cuervo, 1977.AMENGUAL, Barthélemy. Chaplin est-il frère de Charlot? In:_____. PremierPlan.
    Lyon: (28) avril 1963.
 AUERBACH, Erich. A Dulcinéia Encantada. In: _____. Mimesis. São
    Paulo, Perspectiva, 1976. p.229-320.
 BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento. 2.
    ed. São Paulo: Hucitec, 1993.
 __________. Problemas da Poética de Dostoiéski. Rio de Janeiro:
    Forense, 1981.
 __________. Questões de Literatura e Estética. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1990.
 BÁRBARO, Umberto. Pourquoi Charlot est des notres. In:_____. Premier
    Plan. Lyon: (28) avril 1963.
 BARTHES, Roland. Mitologias. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand,
    1989.
 __________. Sistema da Moda. São Paulo: Ed. Nacional, 1979.
 BAUDRILLARD, Jean. O Sistema dos Objetos. São Paulo: Perspectiva,1973.
 BAZIN, André. Charles Chaplin. São Paulo: Marigo Editora e Distribuidora
    Ltda., 1989.
 BENDER, Ivo. A Questão do Trágico. In:_____. NUNES, Benedito et alii. Filosofia
    Política 7. Porto Alegre: L & PM, 1993.
 BERLIN. Isaiah. Limites da Utopia. São Paulo: Ed Schwarcz, 1991.
 CAMPBELL, Joseph. O Herói das Mil Faces. São Paulo:Cultrix/Pensamento,
    1988.
 CANDIDO, Antonio. Dialética da Malandragem. In: _____. Revista do
    Instituto de Estudos Brasileiros. Universidade de São Paulo, (8) p.67-89.
    1970.
 CAPELLANUS, Andreas. De Amore. Tradução espanhola. CREIXELL VIDAL,
    Inés. Cómo se obtiene el amor. In: _____. El Festín de Esopo. Barcelona:
    Cuadras, 1985.
 CASAS DE FAUNCE, María. La Novela Picaresca latinoamericana. Madrid:
    Cupsa, 1977.
 CASTRO, Américo. El Lazarillo de Tormes. In:_____. Hacia Cervantes.
    Madrid: Taurus, 1967.
 __________. El Pensamiento de Cervantes. In: ______. et alii. Historia y
    Crítica de la Literatura Española. Edad Media. Barcelona:
    Editorial Crítica.
 __________. Perspectiva de la Novela Picaresca. In:_____. Hacia
    Cervantes. Madrid: Taurus, 1967.
 CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de. Don Quijote de la Mancha.
    Madrid:Espasa-Calpe, 1989.
 __________. Don Quijote de la Mancha. Texto y Notas de Martín
    Riquer.Barcelona: Ed. Juventud, 1955.
 CHAPLIN, Charles. Minha Vida. 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.
 CHEVALIER, Jean. Dicionário de Símbolos. 2.ed. Rio de Janeiro: J.
    Olympio, 1990.
 DAVIS, Flora. A Comunicação Não-Verbal. São Paulo: Summus
    Editorial,1979.
 DEL MONTE, Alberto. Itinerario de la Novela Picaresca Española.
    Barcelona: Lumen, 1971.
 DICCIONARIO ENCICLOPÉDICO. México: U.T.E.A. A, 19. v.8.
 DIEZ ECHARRI, Emiliano & ROCA FRANQUESA, José María. Historia de la
    Literatura Española e Hispanoamericana. Madrid: Aguilar, 1982.
 DOMENACH, Jean Marie. Le Retour du Tragique. Paris: Seuil, 1967.
 DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. A Rosa do Povo. In:_______. Obras Completas.
    Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.
 DUBY, Georges. A Propósito do Amor Chamado Cortês. In: _____. Idade
    Média, Idade dos Homens: do amor e outros ensaios.
    São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
 EISEINSTEIN, BLEIMAN, et alii. El Arte de Charles Chaplin.
    Buenos Aires: Losange, 1956.
 | 
  
    |  | FERNÁNDEZ DEL VALLE,
    Agustín B. Filosofía del Quijote. México: Espasa-Calpe, 1968. FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas. Lisboa: Portugália. Ed.1966.
 FERRAND, Jaime. Algunas Constantes en la Picaresca. In:_____. La
    Picaresca : orígenes, textos y estruturas. Atas del I Congreso Internacional sobre la
    Picaresca. Madrid: Fundación Universitaria Española, 1979.
 FRANÇA, José-Augusto. Charles Chaplin - o "self-made-mith". Lisboa:Livros
    Horizonte Ltda., 1989.
 FRANCO JR., Hilário. As Utopias Medievais. São Paulo: Editora
    Brasiliense 1992.
 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
 FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos. Rio de Janeiro: J. Olympio,1977.
 FREUD, Sigmund. Sobre o Narcisismo: uma introdução. In: Obras Completas de
    Sigmund Freud. v.14. Rio de Janeiro: Imago, 1974. p.89-119.
 FRIEIRO, Eduardo. Do Lazarilho de Tormes ao filho de Leonardo Pataca.
    In:______. Kriterion. Belo Horizonte. 27- 28, 1954. p. 65-82.
 
 FURHAMMAR, Leif & ISAKSSON, Folke. Cinema & Política. Rio de
    Janeiro: Paz e Terra, 1976.
 GIMÉNEZ CABALLERO, Ernesto. Vagabundeo por la Picaresca. In_____: La
    Picaresca: orígenes, textos y estruturas. Atas del I Congreso Internanacional sobre
    la Picaresca. Madrid: Fundación Universitaria Española, 1979.
 GONZÁLEZ, Mario M. A Saga do Anti-Herói. São Paulo: Nova Alexandria,
    1990.
 __________. O Romance Picaresco. São Paulo: Ática, 1988.
 GOUVÊA, Carolina Maia. A Linguagem Gestual em Grande Sertão: Veredas.
    Dissertação de Mestrado. U.F.R.J. 1975.
 GRACE A., Harry. Les films de Chaplin et les thèmes fondamentaux de la culture
    américaine 1952. In:_____. Premier Plan. Lyon: (28) avril 1963.
 GREIMAS, A.J. Conditions dune Sémiotique du Monde Naturel. In:______.
    Langages: pratiques et langages gestuels. Paris: Didier/Larousse. (10) jun. 1968.
 GUEDJ, Aimé. Structure du monde picaresque. In:_____. La Nouvelle
    Critique. no. spécial: Linguistique et Littérature. p. 82-87.
 GUILLÉN, Claudio. Toward a Definition of the Picaresque. In: ______ . Literature
    as system. Princeton: Princeton Univ. Press, 1971.
 HAUSER, Arnold. El Manierismo, Crisis del Renacimiento. Madrid:
    Guadarrama, 1971.
 __________. História Social da Literatura e da Arte. 4.ed. São
    Paulo:Mestre Jou, 1980. t. I, 1982. t.II
 HUTCHEON, Linda. Uma Teoria da Paródia. Lisboa: Edições 70, 1985.
 KOTHE, Flávio R. O Herói. 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 1987.
 LA VIDA DE LAZARILLO DE TORMES Y DE SUS FORTUNAS Y ADVERSIDADES. Madrid:
    Aguilar,1956.
 
 Lazarillo de Tormes. São Paulo: Página Aberta, 1992.
 LÁZARO CARRETER, Fernando. Lazarillo de Tormes en la Picaresca.
    Barcelona: Ed. Ariel, 1978.
 LEPROHON, Pierre. Charles Chaplin. Madrid: Rialp, 1961.
 MAFFESOLI, Michel. A Sombra de Dionísio: contribuição a uma sociologia
    da orgia. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
 __________. Liberdades Intersticiais. In:______. et alii. A Decadência
    do Futuro e a Construção do Presente. Florianápolis: Ed. da
    UFSC, 1993.
 MARAVALL, José Antonio. La Literatura Picaresca desde la Historia Social. Madrid:
    Taurus, 1986.
 MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Cartas Filosóficas e Manifesto Comunista
    de 1848. São Paulo: Editora Moraes, 1987.
 MAYA CORTES, Osvaldo. La Aventura del Héroe en la Novela Picaresca.In:_____.
    Cuadernos de Filología. (12) Antofogasta: Universidad de Chile, 1980.
 MELLO E SOUZA, Gilda de. O Tupi e o Alaúde: Uma interpretação de
    Macunaíma. São Paulo: Duas Cidades, 1979.
 MERTON, Robert. Sociologia: teoria e estrutura. São Paulo. Mestre Jou,
    1970.
 MITRY, Jean: Charlot et la "fabulation" Chaplinesque. Paris:
    Éditions Universitaires, 1957.
 __________. Tout Chaplin. Paris: Seghers, 1972.
 MONGELLI, Lênia Marcia de Medeiros. A Poesia Lírica Galego-Portuguesa.In:
    ______. et alii. A Literatura Portuguesa em Perspectiva. São Paulo:
    Atlas, 1992.
 OMS, Marcel. Carlitos, estrangeiro e irmão. In: _____. O Correio da
    Unesco. 17 (12) 38-45. Dezembro de 1989.
 | 
  
    |  | PEÑUELA CAÑIZAL,
    Eduardo. Dos Gestos que Passam e Ficam. O Estado de São Paulo. São
    Paulo, 5 fev. 1978. Suplemento Cultural. __________. Visual illusions and intratextuality in Picassos Picasso.
    Semiotica. 81- 3/4.
 PINHEIRO, Suely Reis. Garabombo: um pícaro politizado. Dissertação de
    Mestrado. U.F.R.J. 1986.
 PRÉVOST, Jean. Monographie mimique dun acteur 1929. In:_____.
    Premier Plan. Lyon: (28) avril 1963.
 PROCA-CIORTEA, Vera & Giurchescu, Anca. Quelques Aspects Théoriques de
    lAnalyse de la Danse Populaire. In:_____. Langages: pratiques et
    langages gestuels. Paris: Didier/Larousse. (10) jun. 1968.
 PROPP, Vladímir. Comicidade e Riso. São Paulo: Ática, 1992.
 RECTOR, Mônica & TRINTA, Aluizio. Comunicação do Corpo. São Paulo:
    Ática, 1990.
 RESTIER, François. Comportement et Signification. In:______. Langages:
    pratiques et langages gestuels. Paris: Didier/Larousse. (10) jun. 1968.
 RICO, Francisco (Dir.). Historia y Crítica de la Literatura Española.
    Barcelona: Editorial Crítica, 1980 (8 vol.)
 ROSENFELD, Anatol. O Mito e o Herói no Moderno Teatro Brasileiro.São
    Paulo: Perspectiva, 1982.
 SADOUIL, Georges. Dicionário de Filmes. Porto Alegre: L & PM, 1993.
 _________. Vie de Charlot. Paris: Les Éditeurs Français Réunis, 1952.
 SÁNCHEZ, Francisco J. & SPADACCINI, Nicholas. Maravall y el estudio de la
    picaresca. In:_____. Cuadernos Hispanoamericanos: Historia de
    España. 1994.
 SARAIVA, António José & LOPES, Óscar. História da Literatura
    Portuguesa. 3. ed. Porto: Porto Ed. s.d.
 SPINA, Segismundo. Normas Gerais para os Trabalhos de Grau: um breviário
    para o estudante de pós-graduação. 2.ed. São Paulo: Ática, 1984.
 STAM, Robert. Bakhtin: da teoria literária à cultura de massa. São
    Paulo: Hucitec, 1992.
 TEIXEIRA COELHO. O que é a utopia. 8.ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.
 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE. Apresentação de Trabalhos Monográficos de
    Conclusão de Curso. Niterói: EDUFF, 1992.
 VIAZZI, Glauco. Chaplin et la critique 1955. In:_____. Premier Plan.
    Lyon:(28) avril 1963.
 VIDAL, Vasco. O Artista e sua Obra. Lisboa: Contraponto, 1954.
 VILLAR, Pierre. Historia de España. Barcelona: Critica, 1978.
 __________. El tiempo del Quijote. In: _____. Crecimiento y Desarrollo.Barcelona:
    Ariel, 1980.
 VILLEGAS LÓPEZ, Manuel. Charles Chaplin - el genio del cine.
    Madrid: Taurus, 1957.
 VISEUX, Dominique. LIniciation Chevaleresque dans la Légende Arthurienne.
    Paris: Dervy Livres, 1980.
 XAVIER, Ismail. O Discurso Cinematográfico: a opacidade e a transparência.
    Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
   |