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DAS RIAS AO MAR OCEANO

Nombre del Autor: Reynaldo Valinho Alvarez

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reynaldo@webcorner.com.br

Palabras clave: poesía galaica - universo  ibérico - tercer milenio

Minicurrículo: Nació en Rio de Janeiro en 1931, donde se diplomó en Letras Clásicas, Derecho, Economía y Administración.  Poeta, cronista, ficcionista y ensayista, tiene libros publicados en Brasil, Portugal, Suecia y Italia, catorce de los cuales son de poesía, dos de ficción, dos de ensayo y trece de literatura para niños y adolescentes. Premiado en Italia, Portugal y Mexico,  es uno de los escritores más distinguidos en Brasil y tiene poemas traducidos en sueco, italiano, francés, macedónio, español, corso y persa.  El poeta ha representado la poesía brasileña en festivales realizados en Suecia, Macedónia, Québec y  en Las Palmas de Gran Canaria, y ha participado numerosas veces como jurado en concursos literarios de carácter nacional en Brasil.

Resumo: Das rias ao mar oceano, de Reynaldo Valinho Alvarez, reúne poemas de inspiração galaica que se relacionam com os lugares, as pessoas, a história, a poesia e a cultura do universo ibérico. Fala do mundo dos descobrimentos, da epopéia das migrações e das perguntas que se levantam no início do terceiro milênio. Vida e morte, a certeza do fim e o desejo de eternidade marcam os limites de uma navegação sem roteiro pelo mar desconhecido.   

Resumen: Das rias ao mar oceano, de Reynaldo Valinho Alvarez, reúne poemas de inspiración galaica que se relacionan con los lugares, las personas, la historia, la poesía y la cultura del universo ibérico. Habla del mundo de los descubrimientos, de la epopeya de las migraciones y de las preguntas que se levantan a  principios del tercer milenio. Vida y muerte, la certidumbre del fin y el deseo de eternidad marcan los límites de una navegación sin trayecto por el mar desconocido.   

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1

Das rias ao mar oceano,  
tanto medo e tanto engano.
Os sonhos que se sonharam,  
quantos deles naufragaram?

Mil e uma travessias  
são tragadas pelos dias.  
As noites roem lembranças  
no porão das esperanças.  

Ventre líquido da Terra,  
o mar digere trabalhos  
e esfarrapa os agasalhos  
de quem no sonho se encerra.

No cais ficaram os nomes,  
os rostos, as mãos, os olhos.  
Depois recifes e escolhos  
doeram mais do que as fomes  
dos dias mortos de inverno,  
sem capote sobre o terno  
que serviu quatro estações,  
do sol às inundações.    

2

Interroga-se o horizonte  
e ele nada diz. A ponte  
entre o olhar e a linha azul  
esvai-se de norte a sul.

Como será do outro lado?  
Qual a cor do inesperado?  
Que desenho tem o amor  
quando se passa o equador?  
E as flores, que formas têm,  
se lá há flores também?  

As árvores, lá, têm frutos  
que adoçam dores e lutos.  
Das terras brotam sozinhos  
grãos prontos para os moinhos.  

O mundo nasce de novo,  
como a ave surge do ovo  
e o céu, lavado em azul,  
ganha outra forma no sul.  

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3  

Água e água, dia e noite.  
O mar é o contínuo açoite  
que o casco da nau arranha,  
quando estranha fúria o assanha,  
arrancada ao longo abismo  
como um véu de paroxismo,  
para estrelar-se em espuma  
sob o sol ou sob a bruma.  

As leiras já se perderam  
no gesto com que as venderam  
mãos ávidas de partida.  
Na ilusória despedida,  
a grávida mente dança,  
gestando sua esperança  
no estômago da pobreza,  
sempre solitário à mesa  
em que outros comem mais gordo,  
como em desigual acordo.  

Lança-se o dardo nos ares  
para atravessar os mares  
e colher na árvore os pomos  
feitos de dourados gomos  
num paraíso de engano  
enquanto se cruza o oceano.  

4  

São tantas noites em claro  
cultivando o solo raro  
do conto que lhes contaram.  
Não sabem que se roubaram,  
roubando-se a vida calma  
em que punham corpo e alma  
no existir limpo e conciso  
em que o tempo era preciso,  
não medido em fantasias  
e sim no contar dos dias.  

Mas, longo, o salto no escuro  
constrói em si próprio o muro  
feito de mito e miséria,  
mostrado na imagem séria  
de tudo quanto entedia  
e não muda a cada dia.  

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5  

Para trás ficam as vinhas.  
À frente, as aves marinhas  
que sobrevoam os mastros  
parecem falar dos astros,  
silenciosos nos ares  
como os santos nos altares.  

Nunca mais colher os frutos  
das videiras. Dias brutos  
anunciam-se no fim  
do mentiroso festim,  
simulacro da viagem  
que se perde na paisagem.  

Joga-se a vida num lance  
de que não se sabe o alcance.  

6 

Das rias ao mar oceano,  
quanto erro e quanto dano,  
quantos destinos cortados  
por fios de aços manchados  
pelo sangue dos aflitos  
apunhalados nos ritos  
de macabras meigas nuas  
no dia-a-dia das ruas  
ou na poeira dos balcões  
sob a mira dos ladrões,  
longe de eiras e de herdades,  
entre as fauces das cidades.  

Quanta voz calou, surpresa,  
nos cortiços da pobreza,  
depois de baixar à terra  
e na cidade ou na serra  
comer um pão mais amargo  
que o do território largo  
de sua fome nos montes,  
antes de cruzar as pontes  
do medo para a aventura,  
lavada em audácia pura.  

7

Das rias ao mar oceano,  
segue o barco a todo pano,  
para revelar segredos  
trancados em tantos medos  
do grande desconhecido,  
talvez num baú perdido.  

Mas, do outro lado, as respostas  
serão como cartas postas  
no correio para o mundo,  
com o acento iracundo  
de quem foi logrado e tenta  
desforrar-se e, amargo, senta  
nos molhes dos portos mudos  
para chorar os agudos  
golpes com que o retalharam.  
Depois riram? Gargalharam.  

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8

Das rias ao mar oceano,  
tudo é jogo, absurdo e insano.  

A poucos o jogo serve  
enquanto o sangue lhes ferve  
nos prazeres da vitória.  
Para outros, outra é a história,  
contada em dias de fome  
em que o solitário come  
a unha encardida no lixo  
que investiga, como um bicho,  
usando a sórdida pata  
como um talher de ouro ou prata.  

9

Das rias ao mar profundo,  
perde-se ou ganha-se o mundo.

Há o que sobe, rei do engodo  
com que engana e mente a todo  
que lhe atravessa o caminho.  
Vestido de lã ou linho,  
sempre cheira ao muito vinho  
servido em sua mansão,  
e até se torna barão.  

Comendas, medalhas, o ouro  
que tem compra-lhe um tesouro  
para mostrar em vitrinas,  
tal como exibe as latrinas  
de mármore aos que o cortejam  
e com ele mercadejam  
a sorte de quem perdeu  
até mesmo o próprio eu.
 

Já outros, com as mãos frias,  
enchem as enfermarias  
dos hospitais de indigentes,  
cuspindo os pulmões doentes  
nas bacias de ágata, alvas  
como aquelas almas salvas  
pelas preces das beatas  
em igrejinhas pacatas.
 

Das rias ao mar, ó mundo,  
em que história crer, no fundo?

10  

Das rias ao mar, aldeias  
desfazem-se como as teias.  

As casas de pedra falam  
no silêncio em que se calam  
e as ruas da aldeia, mortas,  
parecem estar mais tortas  
sob a fina chuva miúda  
que em cada parede gruda.  

Foram-se os homens. As velhas  
já não consertam as telhas  
nem cultivam mais as berças,  
em suas camas imersas,  
sonhando as bodas antigas,  
em que, belas raparigas,  
sorriam com o noivo ao lado.  
Assim corrói o passado.  

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11

Das rias ao mar, um dia  
completa-se a travessia.  

Do outro lado, é verde e quente,  
e o suor está presente  
em cada esforço, no apego  
com que se agarra ao emprego  
o que emigrou. É preciso  
comer pouco e ter o siso  
de poupar o cobre e enviá-lo  
a quem ficou. Cada calo
exalta o esforço do pobre,  
mas, na aldeia, toca o dobre  
em que se anuncia a morte  
da mãe do que busca a sorte.  

Faz-se a lágrima um cristal,  
como o claro pedestal  
de onde se eleva a figura  
tersa, forte, honesta, pura  
de quem cevava alimárias,  
enquanto o filho, entre párias,  
tenta levantar do asfalto  
com os olhos postos no alto  
do outeiro de sua aldeia,  
de onde imaginou um dia  
partir para a travessia.  

Partir sempre foi preciso,  
com lágrimas ou com riso.  

12  

Das rias ao mar, a guerra  
leva o rugido da terra.  

Entre insultos, fuzilados,  
caem mortos os cansados,  
os que perderam na luta,  
entregues à sanha bruta  
de antigas fúrias sangrentas  
como as de aves agourentas  
que se nutrem dos despojos  
sem escrúpulos ou nojos.  

As cartas seguem rasgadas  
e as frases são censuradas.  
Não pode o filho saber  
se a mãe tem o que comer.  
São penas a suportar  
no outro lado do mar.  

Quem se faz ao mar não sabe  
de quem fica o que lhe cabe.
 

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13

Das rias ao mar, a lenda  
é o abrigo armado em tenda.  

Os anos rolam. 
Não passa
a dor cínica e devassa  
que adere às roupas e aos muros  
e sempre dá tons escuros  
às conversas em dialeto  
sob um estrangeiro teto  
em climas tão diferentes  
daqueles em que os parentes  
reunidos junto ao fogo  
não participam do jogo  
da aventura sobre as águas  
em que se afogam as mágoas.  

Muitos voltam. Outros não,  
entregues a um outro chão  
que não o do berço antigo.
Bom amigo ou inimigo,  
o novo solo os aguarda  
com a vestimenta parda  
da terra que os cobrirá.  
Quem sobreviver, verá.  

E assim os dias são malhas  
tecidas para as mortalhas.  

14

Das rias ao mar oceano,  
haverá na vida um plano?  

Já não se parte, que o pão  
chega para a divisão.  
Migram as aves. Galaica,  
a vida, já não arcaica,  
gera frutos que se comem  
e são para todo homem
e toda mulher. O porto  
já não se olha como ao torto  
e torvo lugar do espanto  
com que se amordaça o canto,  
criando órfãos e viúvas,  
nem as sonolentas chuvas  
trazem saudade ou morriña  
a cada folha ou gavinha  
dos vinhedos, ou aos montes,  
ou aos ribeiros e às fontes  
entregues a uma cantiga  
sempre nova e sempre antiga.  

Das rias ao mar oceano,
singra a nau do sonho humano

 

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