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LOS ECUADORES DE LA CHICHA

  Nome do Autor: Denise Fonseca
 

denise@anonimoslatinos.org

Palavras-chave: Chicha - Manabi - comida

Minicurrículo: Nasceu em Rio Claro, São Paulo em 1955. Arquiteta pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1980, concluiu o mestrado em Latin American Studies na University of Houston em 1991 e o doutorado em história na Universidade de São Paulo em 1997. Sua pesquisa, da área de história social comparada e antropologia cultural, inclui América Latina e Caribe, com ênfase em resistência social e identidades culturais. Como escritora, ela utiliza a meta-ficção historiográfica, gênero pós-moderno que busca preencher os vazios deixados pela história através da arte.

Resumo: Muitas vezes nossa alimentação é a melhor evidência das fronteiras culturais que nos separam, embora não haja nada que nos una mais que alguns dos típicos frutos da nossa terra como, por exemplo, as bananas, para citar apenas o mais óbvio. No México é costume dizer que o norte se separa do sul onde o guisado se converte em assado. Contudo, para que os cadernos de receitas nos ajudem a entender a pluralidade cultural latino-americana vale a pena compartilhar algumas idéias gerais.

Resumen: Muchas veces nuestra alimentación es la mejor evidencia de las fronteras culturales que mantenemos, aun que no hay nada que nos unifique más que algunos de los típicos frutos de nuestra tierra como, por ejemplo, el árbol de bananos. En México es costumbre decir que el norte se divide del sur donde el guisado se convierte en asado. Sin embargo, para que los cuadernos de recetas nos ayuden a entender la pluralidad cultural latinoamericana, es provechoso compartir algunas ideas generales.

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“Pondera Frei José [Padre Joseph de Acosta, Sevilha, 1590] que, como em todas partes, o homem se sustenta primeiramente com o pão, deve haver nas Índias algum, pois não há trigo. Porém, seus tipos e característica são diferentes, ‘porque não se sabe que existisse cevada, mijo [gramínea originária da Índia, comum na Espanha] ou panizo [gramínea originária do Oriente], nem outros grãos usados para fazer pão na Europa’. Existem outros alimentos, acrescenta, e ‘entre todos tem o principal lugar, e com razão, o grão do milho que em Castilha é chamado trigo das Índias, e na Itália grão da Turquia’, tão abundante no Novo Mundo como é o trigo no velho, pois pode ser encontrado em todos os Reinos das Índias Ocidentais”.


“Às vezes uma palavra, uma frase, um poema ou uma história soa tão bem, soa tão perfeito que faz com que nos lembremos, pelo menos por um instante, da substância da qual somos feitas e do lugar que é o nosso verdadeiro lar”.

 

Chicha.  Akachicha fuerte viñapu
    aka.
Chicha hazer.               Akacuni.

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Chicha
[Manabí]

            · açúcar
            · milho criollo [amarelo]
            · canela
            · uma folha de figo
            · cravo-da-índia
            · anis
            · baunilha

Se mói [o milho] entre fino e grosso, em seguida se põe para ferver com a folha de figo, canela, cravo-da-índia, anis a fogo lento, se mexe constantemente para que não se pegue ou se defume esta bebida. Este cozimento demora uma hora a hora e meia, e à medida que vai encorpando se vai acrescentando água até que o milho suavize totalmente.

Esta bebida se prepara dois dias antes do seu consumo.


Ilustracion

Quando esteja bem suave o milho, se põe para esfriar até que a mistura fique gelatinosa. Para obter o líquido se pega um pano bem asseado (limpo) e se começa a retirar a essência. Para isto se acrescenta um pouco de água (pouco a pouco), e se vai coando parte por parte.

Se recolhe a essência e se acrescenta à ela água fervida fresca e a baunilha a gosto, depois adoçamos, e se começa a servi-la com biscoitos.

A Província de Manabí é uma das províncias costeiras do Equador que se caracteriza por possuir uma abundante vegetação tropical incluindo diversas variedades de frutas. A presença das folhas de figo na receita da chicha manabita é uma evidência da adaptação das tradições culturais aos elementos presentes na natureza.

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“É clara a relação entre a terra, os alimentos, os objetos de barro e o próprio homem, o qual colhe os frutos da terra, prepara-os e come em recipientes de barro cozido e volta a terra na sua morte, muitas vezes enterrado em um recipiente de barro”.

Chicha de jora [Cuenca]

            · 1 libra [1/2 quilo] de jora [milho germinado]
            · 12 litros de água
            · 8 onzas [250 gramas] de rapadura

Dois ou três dias antes da festa deve-se preparar a chicha em uma paila [tacho] de bronze, em fogo a carvão ou lenha, dissolvendo primeiro a farinha moída de jora em água fria até obter um mingau grosso que se coloca no tacho, junto com o resto da água e a rapadura.

Enquanto isso toste em uma frigideira uma parte de farinha de jora seca para que, ao misturá-la com o mingau, a chicha fique com uma cor amarelo-dourada. Acrescente ao tacho e deixe ferver lentamente durante uma hora mais ou menos, ou seja, até que a farinha se cozinhe completamente.

Quase ao final, ponha no tacho uns pedaços de 30 cms de cana-de-açúcar descascada e depois chancada com uma pedra. Continue cozinhando até que a jora forme na superfície uma espuma chamada ticti. Esta espuma, que é bem doce, se serve quente para os anciãos e para as crianças da família, por ser considerada nutritiva.

Quando a chicha que se está preparando fica de uma cor pálida e sem a doçura natural do milho, ela é colorida e ganha sabor adicional com rapadura escura. Retire do fogo, coe na peneira fina e deixe fermentar em um cântaro harmi-pucuchi, pucuchidor ou borracho [bêbado]. Neste cântaro já devem ter amadurecido várias chichas, depois de haver enxaguado-o com a própria chicha, jamais com água. Uma vez que a chicha tenha passado um dia e uma noite no cântaro pucuchidor, está pronta para beber.

Quando o cântaro é novo, a jora fermentará depois de três dias.

Muitas vezes o barro é mais que apenas o recipiente que contém o alimento. A cerâmica utilitária, que é parte integral da cultura regional, contribui também para dar o sabor, o perfume e a textura ideal a algumas das comidas cuencanas como, por exemplo, a chicha. A Província de Azuay, onde se encontra a cidade de Cuenca, está localizada predominantemente na serra e mantém uma forte tradição artesanal que inclui a tecelagem, os bordados, o artesanato de palha toquilha, a joalheria e principalmente a cerâmica.

“Assim nasceu a cerâmica, criatura da terra e do fogo, depositária da frescura da água, e custódia da promessa perene do cereal (...) A cerâmica (...) filha e companheira da mulher, produto do esmero e destreza das suas mãos, confeccionada para transcorrer ao seu lado, para gastar-se amorosa e confiantemente com a intimidade do uso, porque na criatura humana ser e fazer consistem em perecer”.


“O patrimônio cultural intangível emana delicioso da (...) chicha, que as guardiãs dos segredos das avós revelam em homenagem ao paladar, se irmana comunitariamente com os odores que saem dos tachos e caldeirões, e, que ao alcançar nossos narizes nos anunciam, como estridentes arautos, a chegada de repastos que solenizarão celebrações com sabor de passado inesgotável”.

Glosario de ecuatorianismos

Chancar:       triturar.
Chicha:         bebida fermentada de maíz.
Choclo:         mazorca de maíz tierno.
Jora:            maíz germinado.
Machacado:  triturado, molido, golpeado.
Paila:           olla hecha de cobre o de metal, de boca ancha y poca altura.
Paja toquilla: [Carludovica Palmata] paja fina de los sombreros
                    “Panamá”.
Pucuchidor:   recipiente hondo, hecho de barro, para fermentar bebidas.

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Chicha de jora
[Quito, Siglo XIX]

Se deixa o milho de molho por quatro dias e isto se lava e se põe em uma cesta de palha para fazer a jora regando-se com água todos os dias até que esteja do tamanho de uma polegada [2.54 cm]; isto se mói perfeitamente bem e se põe a cozinhar com bastante água por três ou quatro horas; depois passa-se pela peneira colocando em um pondo madurador [cântaro] e se deixa destapado até que esfrie; antes que esfrie se separa o que se vai tomar e se tempera com água miel [calda leve de açúcar]’. Quando esteja completamente frio pode-se tapar

“O consumo de bebidas alcoólicas era um hábito comum na sociedade quitenha do século XVIII. A população indígena preferia a chicha e sua origem é anterior à chegada dos espanhóis. ‘Durante o período colonial sua maior diversão parecia girar em torno do cântaro de chicha’. Os setores populares urbanos faziam uso massivo do guarapo [aguardente], que consistia em um caldo de cana fermentado preparado no trapiche. Chama a atenção a ausência de referências ao guarapo nos cadernos de receitas das damas quitenhas de fins do século XIX, sugerindo uma forma de censura social”.

As palavras - assim como todas as demais criações humanas - têm seus conteúdos definidos no cotidiano das relações dos homens uns com os outros e deles com a natureza que os abriga e lhes dá morada. Mesmo naquelas culturas que provém das mesmas raízes e que têm histórias compartilhadas, muitas vezes são construídos significados bastante diferenciados para as palavras que compõem seus vocabulários básicos, assinalando as fronteiras das suas identidades culturais.

Chicha ó caihua del Perú, Anguria pedata, LIN. Planta que no seu país natal é apreciada, porque seu fruto serve para fazer cataplasmas emolientes e para comer curtidos, usando-se também as sementes para as emulsões, assim como a Anuliria trifoliata, L. y la A. trilobata, L.


Muitas vezes os cadernos de receitas se convertem em verdadeiros receituários médicos. Durante muito tempo a saúde da família foi mais uma das muitas (pre)ocupações da mulher. A própria concepção daquilo que é saudável em uma dada sociedade - e as maneiras para alcançá-lo - constitui uma forte evidência das construções culturais dos grupos humanos. No século XIX equatoriano, quando a chicha não era suficiente para afastar a tristeza, ou a fragilidade do corpo, havia outras curiosas poções - agora medicinais - que podiam ser preparados por sábias mulheres.

Obras citadas

    CORTES Y MORALES, Balbino, Diccionario Doméstico. Tesoro de las familias o Repertorio Universal de Conocimientos Útiles. Madrid: Carlos Bailly-Bailliere, 1877. Cuarta edición.  Biblioteca Ecuatoriana Aurelio Espinosa Polit.
    ESTÉS, Clarissa Pinkola, Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Traducción de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
    FONSECA, Denise Pini Rosalem da y VON BUCHWALD, Patricia (editoras), Secretos de Alacena. Quito: Museo de la Ciudad, Ediecuatorial, 1998.
    FONSECA, Denise Pini Rosalem da, De la Cocina de... Manabí. Quito: Historia y Vida, 1999.
    FONSECA, Denise Pini Rosalem da, Esencia Cuencana. Quito: UNESCO, Historia y Vida, 1999.
    GONZÁLEZ HOLGUÍN, Diego, S.I., Vocabulario de La Lengua General de Todo el Perú llamada lengua Quichua o del Inca. Madrid: Compañía de Jesús, 1608. Fondo Jijón, Biblioteca del Museo del Banco Central del Ecuador.
    JARA HIDROVO, Efraín, “Cerámica", en MALO GONZÁLEZ, Claudio (editor), Expresión Estética Popular de Cuenca. Cuenca: CIDAP, 1983.
    SJÖMANN, Lena, “Vasijas de barro”, en CIDAP, La cerámica popular en el Ecuador. Cuenca: CIDAP, 1992.
    TAFALLA, Juan José, “Flora Huayaquilensis”, en ESTRELLA, Eduardo (investigación y edición), RUIZ, Hipólito y PAVÓN, José, Flora Peruviana y Chilensis,1799-1808. Acervo del Real Jardín Botánico de Madrid. Madrid: Ministerio de Agricultura, Pesca y Alimentación, 1988. Biblioteca Ecuatoriana Aurelio Espinosa Polit.
    VINTIMILLA DE CRESPO, Eulalia, Viejos Secretos de la Cocina Cuencana. Cuenca: 1993.
 

 Publicado em Anonim@s Latin@s No.1 - 15 de novembro de 2000 a 15 de janeiro de 2001


Sobre o autor:
nome: Denise Fonseca
E-mail: denise@anonimoslatinos.org
Home-page: http://www.anonimoslatinos.org/
Sobre o texto:
Texto inserido na revista Hispanista no 12
Informações bibliográficas:
FONSECA, Denise. Los ecuadores de la Chicha. In: Hispanista, n. 12. [Internet]
http://www.hispanista.com.br/revista/artigo108.htm 

 

 

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